Um roteiro de seis dias por Ouro Preto e a Serra do Caraça, em Minas Gerais

Minas Gerais tem roteiros turísticos surpreendentes. Por mais que você rode, sempre aparece algo novo e foi isso que me animou para um roteiro de 6 dias de São Paulo até Catas Altas (MG), passando por trechos da Estrada Real. Uma ótima experiência que faço questão de compartilhar aqui no Mundo Mochila.

Parti de São José dos Campos na manhã do dia 24 de abril. Clima tranquilo, a bordo de um Fiat Punto e o roteiro desenhado em nosso mapa. A proposta foi seguir até o Santuário do Caraça, uma pousada em um antigo seminário na Serra do Caraça, que faz parte da Reserva da Serra do Espinhaço.

Fiz a viagem com meu pai e pra mim foi particularmente especial. Foi a primeira após um problema de saúde que se arrastou por dois anos. Fui em busca de tranquilidade e foi exatamente o que encontrei.

Estrada Real e o restaurante no meio do nada

A viagem não teve planejamento sobre horários ou sobre locais de refeição. Em um determinado trecho da estrada, em São Vicente de Minas, um pequeno trecho da rodovia é de terra – 4 km. Aliás, nessa região o trecho de asfalto é muito mal cuidado. Nem mapa, nem GPS apontavam este trecho de terra, e resolvemos parar para pedir informações.

Entramos no restaurante Canto do Macuco (2), onde estavam estacionados vários jipes. Pegamos informações da estrada e resolvemos parar para comer. Excelente escolha, a comida estava muito bem feita e a conta para duas pessoas deu R$ 30, incluindo bebidas. Não apenas o acaso, mas o atendimento e a comida valeram para o restaurante constar como “Ponto 2” em nosso mapa de viagem.

A Estrada Real é um conjunto de estradas abertas na época do Brasil colônia, que cortam Minas, Rio e São Paulo. Essas estradas eram mantidas pela Coroa Portuguesa e com o tempo foram asfaltadas e deram origem às atuais rodovias. Nestes trechos existem várias rotas turísticas possíveis e é comum encontrar aventureiros à pé, à cavalo e também de jipe.

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Aliás o grande atrativo de seguir pela Estrada Real é conhecer as particularidades de cada cidade. Logo após passar São João Del Rey, a maior cidade daquela região, está Lagoa Dourada. A estrada corta a cidade por dentro e neste ponto trafegamos em área urbana. E o que chama a atenção são os rocamboles! Tem várias propagandas anunciando rocamboles neste trecho, uma especialidade local que vale uma parada. São duas lojas próximas especializadas no doce e com uma grande variedade. Vale a parada.

Ainda nesta viagem é possível visitar Congonhas, uma importante cidade histórica com enorme acervo do artista Aleijadinho. Como já havia escurecido e tínhamos hotel reservado em Ouro Preto, pulamos esta etapa da viagem, mas fica a sugestão de parada. De São José dos Campos à Ouro Preto foram 10 horas de viagem, com três paradas pelo caminho (um lanche em Baependi, o almoço de São Vicente e o rocambole de Lagoa Dourada), além daquele ritmo de 20 km/h nos trechos dentro das cidades.

Ouro Preto

Chegamos em Ouro Preto a noite (quase 23h), no domingo, e a cidade estava com poucos turistas pela rua. Muitas lanchonetes abertas e poucos restaurantes. Fizemos check-in na Pousada dos Ofícios e fomos para o centro. Na Rua Conde de Bobadela ainda estava aberto o restaurante Casa do Ouvidor. Serve comida mineira tradicional, fui de frango com quiabo e foi excelente. Preço razoável e pratos bem servidos.

Museu da Inconfidência, na principal praça de Ouro Preto (MG) (Foto: R. Ferezim/MM)

No dia seguinte largamos o carro na pousada e fomos conhecer o centro histórico a pé. Começamos pela feira de artesanatos que fica perto da Praça Tiradentes, onde é possível achar muita coisa interessante. Miniaturas das igrejas da cidade, pratos, vasos, tabuleiros de jogos, tudo feito em pedra sabão (carro-chefe da arte local). Os preços variam, nada puxado, mas vale negociar que os preços vão caindo bastante.

Feira de artesanato em Ouro Preto tem objetos feitos em pedra sabão (Foto: Renato Ferezim/MM)

Depois visitamos o Museu da Inconfidência, que fica na praça principal, onde Tiradentes foi enforcado. Apesar do movimento constante de carros e pessoas neste local, é uma sensação muito interessante estar onde se passou um dos mais importantes episódios da história do Brasil e que ouvimos falar bastante desde pequenos. O museu tem muitas obras de valor e artigos de ouro e tem segurança particular por todos os lados, além das exposições ficarem em vidros blindados. É muito bem organizado e vale a visita. O acesso custa R$ 10 e não é permitido tirar fotos no interior.

“O que você vai encontrar nesta viagem é muita cultura e história de séculos passados, quando Igreja e Estado se confundiam. Não é um passeio religioso propriamente”

O roteiro pelas igrejas também é muito interessante. São várias espalhadas pela cidade e selecionamos algumas para conhecer, começando pela Igreja Nossa Senhora do Carmo, que fica ao lado do Museu da Inconfidência e terminando pela Igreja São Francisco de Paula, já perto da pousada. Todas são conservadas, têm estilo barroco e funcionam como museus.

Sem distinção de religião, o que você vai encontrar nesta viagem é muita cultura e história dos séculos passados, quando Igreja e Estado se confundiam. Não é um passeio religioso propriamente, mas claro que cada um manifesta sua fé a sua maneira. Nesta viagem passamos por locais onde o domínio da igreja católica foi muito forte no passado.

Como o nosso foco aqui é o roteiro de seis dias por Minas, um relato mais preciso de Ouro Preto eu farei em um post a parte.

Ficamos dois dias em Ouro Preto antes de partir para Catas Altas (MG) – (Foto: R. Ferezim/MM)

A estadia na Pousada dos Ofícios foi ótima. Os quartos são grandes e limpos. Nossa escolha foi pelo preço entre os hotéis mais bem avaliados no Booking naquela data e foi um bom acerto. Olhando de fora parece um local muito pequeno, mas como a pousada fica em um barranco, os quartos estão nos andares de baixo e a recepção fica no nível da rua de cima. No café vi alguns doces e cervejas expostos. Comprei um pack com três cervejas Ouropretanas. Segue o jogo…

Dia 3: Mariana, Santa Bárbara e Caraça

Logo na manhã de segunda seguimos para Mariana, que fica bem perto, e conhecemos mais igrejas na região central. A cidade é bem pacata, mas numa segunda-feira seria impossível encontrar um clima turístico. Apesar disso, não podíamos deixar de conhecer a cidade que foi a primeira vila e chegou a ser a capital de Minas Gerais.

Paramos para almoçar logo após sair da cidade, na beira da rodovia. Um quilão convencional, nada de especial, e seguimos rumo ao Santuário do Caraça. É uma viagem de duas horas que passa pela área de exploração de minérios da Vale e da Samarco. Da rodovia é possível ver a represa de rejeitos que causou a tragédia em Bento Rodrigues. O trecho é de curvas bem perigosas e a represa torna a paisagem muito feia.

Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Mariana. (Foto: R. Ferezim/ MM)

Seguimos pela MG-129 até o ponto em que ela faz uma curva acentuada sentido à cidade de Brumal. Foi nesse ponto que entramos na cidade de Santa Bárbara. Não estava no roteiro, mas porque não conhecer e caminhar pelo centro da cidade?

Santa Helena (MG) é um local muito tranquilo. Nosso último ponto antes de seguir para o Caraça (Foto: R. Ferezim/ MM)

Santa Bárbara é bem pequena, parece uma cidade fantasma. Em plena tarde de segunda-feira, meia dúzia de carros andando pela cidade e quase ninguém na rua. No centrinho a imagem da igreja no alto é digna de uma boa foto. Ali mesmo é tão quieto que é possível ouvir os alunos na escola. Paramos para descansar e tomar um sorvete, daqueles tradicionais, de massa.

Chegada a hora de partir rumo ao destino final, o Santuário do Caraça. São 50 minutos de estrada nesta última etapa.

Santuário do Caraça, Catas Altas

O Santuário do Caraça é um lugar de muita paz. Uma pousada administrada pela Igreja Católica onde antes funcionava um seminário. Tudo foi transformado em quarto para receber os hóspedes. Esqueça a comodidade – ou a parafernália – digital da vida moderna. Existe só um ponto de internet funcionando no Caraça, perto da igreja e uma sala de TV – não tem tv nos quartos.

Chegada no Santuário do Caraça. Nesta portaria é cobrada a taxa ambiental de R$ 10,00 (Foto: R. Ferezim/ MM)

Os detalhes do Santuário de Caraça estarão em outro post que escreverei futuramente. É um lugar muito bom para recarregar as energias. A hospedagem tem preço razoável e nem sempre é fácil conseguir uma reserva, principalmente próximo ao período de festas. Os frequentadores do Caraça são pessoas em busca de aventura – são várias trilhas em meio ao Parque da Serra do Espinhaço – ou famílias que querem esquecer a correria do dia a dia. Tem também estrangeiros, que chegam ao Caraça por recomendação do guia Lonely Planet.

Vista do Santuário do Caraça (Foto: R. Ferezim/MM)

Ficamos por dois dias e nesse tempo conhecemos duas trilhas de fácil caminhada, uma delas levando a uma cachoeira muito bonita. No caminho é possível ver vários bichos – saguis e antas, por exemplo -, mas não vimos o Lobo-Guará, considerado o bicho “embaixador” do Caraça.

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Na Pousada as diárias são cobradas por pessoa, mesmo que elas fiquem no mesmo quarto. Pagamos, em 2016, 180 reais por pessoa, mas nesse valor estão inclusas três refeições: café, almoço e jantar (bebidas à parte). A comida no Caraça é muito boa, feita com produtos do local. Só fique atento para os horários das refeições, os intervalos são respeitados à risca e não se serve após esse período. Portanto, ao fazer trilhas no local, se programe para as refeições.

Se não pretende se hospedar, o Caraça também acolhe visitantes de um dia. Mas qualquer um que entra na propriedade paga uma taxa ambiental de R$ 10,00. Aquele velho costume brasileiro, de armar uma grelha e fazer churrasco, é proibido no local.

Uma das trilhas do Santuário do Caraça leva a este córrego dentro da propriedade. (Foto: R. Ferezim/ MM)

O interessante ao procurar o Caraça para passar um período de descanso é que a pessoa deve estar disposta a abrir mão de algumas coisas, como o celular por exemplo, e estar ciente de que regras devem ser respeitadas. O pessoal do Santuário do Caraça é muito rígido com cuidados ambientais e com o próprio prédio da pousada, que é preservado como patrimônio histórico. Os quartos são rústicos, de mobiliário e decoração antiga. São limpos e não há bichos circulando dentro da pousada.

Prometo que teremos aqui um post mais detalhado e exclusivo do Caraça. Após seis dias circulando por Minas, seguimos até Belo Horizonte e voltamos para casa pela Rodovia Fernão Dias. Cansativo dirigir, mas prazeroso o passeio. Recomendo!

Santuário do Caraça é uma pousada criada onde antes era um seminário católico (Foto: R. Ferezim/MM)
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