Se você nunca esteve em Buenos Aires, possivelmente a cidade esteja em seus planos de viagem. O destino é preferido dos brasileiros e tem uma atmosfera muito agradável, com belos parques, atrações turísticas e uma arquitetura que confere à cidade características de algumas partes da Europa. Um dos encantos de Buenos Aires até pouco tempo era o custo. Alimentação, transporte, hospedagem, tudo com preço similar ou pouco abaixo do que é praticado no Brasil. Masssss, essa realidade mudou.
Buenos Aires está cara para estrangeiros. Isso é uma combinação da nova política adotada pelo país desde 2016, que fortaleceu o Peso frente ao Real e a crise que se instalou no Brasil. Eles ficaram mais caros, nós perdemos poder de compra. Portanto, se vai à Argentina, prepare um $$ extra em seu planejamento.
Bom, mas vamos ao que interessa, você certamente chegou aqui em busca de uma sugestão de roteiro. O que fazer em Buenos Aires? Vou compartilhar com você as minhas impressões da cidade onde estive por duas vezes e que voltaria, sem dúvida. Nas duas oportunidades fui com minha namorada, e no geral as atrações citadas aqui nos agradaram bastante.
Voando e chegando
As passagens para a Argentina costumam entrar em promoção em diversas épocas do ano. A Aerolineas Argentinas, que é do governo argentino, tem uma política tarifária para atrair brasileiros para o país, embora o serviço da empresa não seja dos melhores. É simplório, assim como o da Gol também é. Se você pesquisar, vai ver que muita gente classifica a Aerolineas como uma péssima empresa aérea. É exagero, a empresa tem melhorado nos últimos anos. Para quem não liga de voar sem opções de entretenimento e apenas um sanduíche simples no trajeto, vá em frente.
A ideia de explicar como funciona o serviço da Aerolíneas é para fazer um comparativo. Existe um voo que parte todos os dias de São Paulo da Qatar Airways. É um voo que vem do Qatar, desce em São Paulo e segue para a Argentina. Normalmente a aeronave desta linha é um Boeing 777, muito confortável, com sistema de entretenimento e é servido um jantar logo após a decolagem. É, certamente, voar de primeira classe em comparação aos serviços das outras companhias aéreas que atuam neste trajeto.
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A boa notícia é que vez ou outra a Qatar opera com tarifas acessíveis neste voo. Para comparação, simulei uma viagem de sete dias, entre 23/08/17 e 30/08/17 pela Qatar e pela Aerolineas. Pela Qatar, R$ 869 (sem taxas). Pela Aerolineas R$ 1256,00. Passagem aérea é algo que não está no mundo das ciências exatas, portanto esta comparação nem sempre terá estas condições. Mas fica a dica para pesquisar. As únicas desvantagens da Qatar são o horário – apenas um por dia – e o fato que a Aerolineas tem voos diretos para o Aeroparque, que é o aeroporto que fica dentro da cidade de Buenos Aires, pertinho de tudo.
Se você descer no aeroporto de Ezeiza, que é para onde vão quase todos os voos internacionais, prepare-se para pagar o transporte até a cidade de Buenos Aires. Se você é de São Paulo, imagine o Aeroporto de Guarulhos. Fica em outra cidade e só dá para chegar de carro ou ônibus.
Recomendo o ônibus se estiver viajando sozinho. O translado de ônibus custa cerca de R$ 40,00. O serviço é bom e te deixa em um terminal na área central. De lá você pode pegar uma van, um táxi ou Uber até o local de hospedagem, sai bem mais em conta. Basta procurar o balcão da empresa Tienda Leon no aeroporto.
Se estiver com mais pessoas, avalie utilizar o Uber, táxi do aeroporto ou os “Remisses”, que são veículos que trabalham como táxis executivos, mas não possuem identificação de táxi. Porém, é um serviço legal. Após uma viagem de avião, em outro país, é normal que espertinhos tentem tirar algum proveito. Os táxis e os remisses têm guichês no aeroporto. Fuja de quem fica oferecendo ali no desembarque, a chance de ser uma cilada pro bolso é grande. O preço dos táxis e remisses fica em torno de R$ 140,00. O Uber é mais barato, como funciona aqui no Brasil, mas como a tarifa é dinâmica, não tenho como precisar um preço comparativo aqui.
Câmbio
Em Buenos Aires o comércio aceita também o Dólar e o Real. Porém, não é em todo lugar que isso acontece. Quando viajei para a Argentina, fui com US$ 300 dólares, alguns reais e o Cartão de Crédito (não esqueça de habilitar para uso no exterior antes de ir). Como sempre faço, ao chegar no aeroporto troco uma pequena quantia pela moeda local, o suficiente para pagar o transporte até o hotel e alguma coisa para comer.
As casas de câmbio da cidade ficam nos shoppings e seguem uma cotação padrão. Diferente de outros países, não funciona em Buenos Aires aquela comparação de casa em casa de câmbio. Mas existe um mercado negro de câmbio, que costuma praticar valores entre 20% e 40% menores. Essas casas de câmbio geralmente funcionam como lojas convencionais e mascaram essa atividade paralela. Geralmente os hotéis sabem onde esses locais funcionam. Se optar por esta prática, lembre-se que em caso de ser enganado, não terá muito o que fazer.
Também há pessoas que trocam dinheiro na rua, principalmente na Calle Florida. Aí é fria total, com alto risco de pegar uma nota falsa ou até mesmo ser roubado na próxima esquina.
Hospedagem
O preço da Hospedagem em Buenos Aires se assemelha muito ao que temos no Brasil. Pode-se encontrar albergues desde R$ 60 e hotéis na faixa dos R$ 180. Este texto foi escrito em agosto de 2017, vale ressaltar.
Procure por hotéis na região central, que é justamente a parte que interessa para conhecer a cidade. Existem pontos turísticos mais afastados, mas para estes locais é possível ir de ônibus ou de trem, ou ainda comprar um pacote com uma agência. Eu prefiro fugir dos pacotes para ficar um pouco mais solto nas viagens, mas pesquiso sempre a possibilidade de contratar, vai que vale a pena.
Da primeira vez que estive na cidade, escolhi o hotel sugerido na pesquisa do site Booking, e foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Babel Suites: os quartos são gigantes, o café é ótimo e o interior é novo (reformado). Em abril de 2014 pagamos algo em torno de R$ 140,00 por cada diária, um ótimo custo benefício. Na pesquisa de agosto de 2017 encontrei quartos por R$ 185,00/diária.
A escolha pelo Babel foi, inicialmente, pela localização. Ele fica em San Telmo (01 no nosso mapa), um bairro tradicional, onde tem várias opções de refeição e fica perto do centro (da para ir a pé) e também de estações de metrô (Subte). No domingo também dá para caminhar poucos metros até a feirinha de San Telmo, que vale uma boa visita.
Em ocasião posterior, em época de temporada, o Babel estava com uma tarifa bem mais alta, e preferimos outro hotel também em San Telmo, o “Two”, que também é bom e muito limpo. Também nos hospedamos no hostel em outra ocasião, que tem preço bom para quem viaja sozinho e tem ambiente agradável.
Definindo o roteiro
Quando cheguei na cidade pela primeira vez, já havia lido muita coisa sobre Buenos Aires na internet. Muita besteira e muita informação útil também. Separei alguns pontos como missão para os seis dias de viagem: os tradicionais Caminito e La Bombonera, Plaza de Mayo e seus arredores, incluindo a Calle Florida e Puerto Madero. Minha namorada também tinha sugerido alguns pontos: o bairro Recoleta, a cidade de Tigre e a livraria El Ateneo, que funciona onde antes já foi um teatro.
“Em outras cidades o serviço de ônibus turístico é uma furada, mas em Buenos Aires ele funciona muito bem”
Uma boa pedida para começar a estadia em Buenos Aires é procurar pelo ônibus turístico, que percorre a maioria dos pontos turísticos da cidade. Em outras cidades o serviço de ônibus turístico é uma furada, mas em Buenos Aires ele funciona muito bem. São muitos horários, principalmente nos fins de semana. Você compra o ticket, que custa em torno de R$ 90,00, na agência que opera o serviço, na Av. Roque Saenz Peña, 728 (é o ponto inicial do percurso), ou compra online ou compra no próprio ônibus, nas paradas que ele faz (são indicadas por um postinho com o logo do passeio).
O interessante de comprar no ponto inicial é que você pode pegar mais informações e também fica sabendo exatamente a hora de partida do veículo. O ticket básico vale por 24 horas. Ou seja, se você comprou às 13h de hoje, você pode usar o veículo até às 13h de amanhã. O serviço começa às 9h e vai até às 17h, só que o bus que sai às 17h vai passar nos últimos pontos lá pelas 18h. Você pode descer em qualquer ponto turístico, fazer o que quiser e esperar os próximos ônibus para ir embora.
Neste bus turístico nós partimos às 10h da manhã e paramos no Caminito e também no estádio La Bombonera (ficam muito próximos). Entramos novamente no ônibus e descemos em Puerto Madero, almoçamos por alí, uma pequena volta e pegamos novamente o ônibus. Fomos no Observatório e na Recoleta na parte da tarde. Como o trajeto é longo, dá para ver todos os pontos turísticos que estão no mapa, mas não dá para descer e conhecer todos em apenas um dia. Portanto, é melhor você fazer um planejamento do que julga mais importante e dar prioridade. Ao meu ver, este passeio é algo para ser feito em apenas um dia.
O veículo tem dois pisos, sendo que em cima é aberto e faz um frio danado, prepare-se. Embaixo ele é fechado, mas o passeio não fica tão legal como é na parte de cima. Todas as poltronas tem um sistema de som, que apresenta a cidade em vários idiomas, inclusive o português.
No dia seguinte optamos pela andança pelo centro da cidade, conhecer a Plaza de Mayo e caminhamos pelo Puerto Madero, sem a pressão do horário do ônibus. São locais tranquilos para se visitar, há presença constante de policiais. Também demos uma volta na Calle Florida (texto mais abaixo), um lugar para compras.
No terceiro dia, decidimos visitar a cidade de Tigre. E essa viagem foi de trem, um ótimo custo-benefício, já que é um serviço de trem urbano, como temos em algumas capitais brasileiras. Sobre a visita à cidade de Tigre, fiz um post específico que você pode ler aqui.
Também fizemos uma visita à livraria El Ateneo, que é uma livraria instalada dentro de um antigo teatro e que preservou as características deste teatro. Para quem está no centro, é uma boa caminhada de cerca de meia-hora. Prefira o metrô para chegar até lá. Na linha D, ela fica próxima à Estação Callao.
E se você gostou da ideia de visitar uma livraria que parece um teatro, que tal visitar um teatro em atividade? O Teatro Colón fica no centro de Buenos Aires e é uma casa centenária de ópera com uma das cinco melhores acústicas do mundo. Existe uma visita guiada ao teatro e a programação do Teatro Colón está disponível no site.
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Compras
Na Calle Florida, região central onde estão várias lojas, é preciso ficar esperto com as abordagens. É uma rua muito frequentada por turistas e existem muitas pessoas oferecendo serviços, pacotes turísticos, troca de dinheiro (mercado paralelo). Como em todo local turístico, existem muitas pessoas mal intencionadas e o barato pode sair caro.
Mochileiros típicos costumam fugir deste tipo de ambiente e de pacotões turísticos, mas se optar por este tipo de turismo, vale procurar uma agência e não apostar no barato que pode sair caro. Na última viagem, a única compra que valia a pena na Calle Florida era uma loja de perfumes, que tem preços muito bons, melhores até do que no aeroporto.
Nesta rua também estão três lojas Falabella que também vale uma visita. A Falabella é uma rede chilena que também está no Peru, Argentina e Colômbia. Lembra muito o que era o Mappin da década de 90 aqui no Brasil. É muito mais completa do que as redes atuais que temos no Brasil e tem bastante coisa que pode despertar interesse. Roupas, comida, material de camping, peças para casa, etc. No entanto, os preços são semelhantes aos do Brasil. Se a compra valer, é mesmo pela compra de algo diferente. Nem tudo o que tem lá, tem aqui.
Aos domingos tem a feirinha de San Telmo. É uma feira interminável que tem de tudo no bairro San Telmo (região central). Uma boa opção para comprar lembranças da viagem ou para presentear. Nas duas vezes que estive por lá, trouxe camisetas e figuras de artesanato. Mas lá é possível encontrar comida, bebida e tem também um núcleo de coisas usadas. Ali tem desde telefone da década de 60, placas de rua, até bonecos Playmobil da década de 90. Tem de tudo mesmo, vale reservar umas 3 horinhas de domingo para conhecer. Começa às 10h da manhã, mas começa a ferver mesmo a partir de meio-dia.
Comendo em Buenos Aires
Como é difícil comer bem e com bom preço em Buenos Aires. E se prepare, porque na Argentina o couvert é obrigatório e os restaurantes que recebem mais turistas adotaram de uns tempos para cá a taxa de 10% para o garçom. O melhor é procurar lanchonetes e restaurantes que façam parte do dia-a-dia dos argentinos. Na primeira viagem, batemos muita cabeça nesse ponto.
Quando estávamos em Puerto Madero, no primeiro dia, arriscamos algumas opções por alí. O restaurante ‘Siga la Vaca’ é muito conhecido entre os brasileiros, que sempre procuram pela “parrillada argentina”, o churrasco. Fui conferir e confesso que achei que parece mais com os restaurantes comuns que temos no Brasil do que de fato um restaurante argentino. Além deste, em Puerto Madero tem outras opções com parrillada e frutos do mar, na área mais próxima à Casa Rosada.
O Rafael Kalinowski, que também escreve aqui no Mundo Mochila, esteve recentemente em Buenos Aires e chamou a atenção dele o preço da alimentação que subiu bastante. Se o plano é de uma viagem com custo mínimo, o viajante vai acabar vivendo de Choripán – o cachorro quente de rua -, os “Chinos”, que são os restaurantes chineses ou até mesmo comendo nos Mc Donalds, que tem aquele preço fixo compatível com o nosso daqui. Só que aí você não vai ter muita história para contar, imagine só “estive em Buenos Aires e provei o Big Mac de lá”.
Também comemos no “Palácio de la Papa Frita”, que fica na Calle Lavalle. É rústico, tem o tradicional argentino (Bife de Chorizo e batatas) e serve bem. Não é dos mais saborosos e também não é barato.
As recomendações do Rafael são o Broccolino, na Calle Esmeralda, e o Casona Del Nonno, na Lavalle, 827. Ambos são cantinas italianas que servem pratos argentinos, inclusive com os vinhos do país, originários da região de Mendoza. Fomos ao Casona del Nonno, onde fizemos a refeição com o melhor custo benefício em nossa viagem.
“San Telmo tem alguns bares e pubs bem legais que valem a visita noturna”
Já partindo para o caminho da diversão, não posso deixar de lembrar que em San Telmo tem alguns bares e pubs bem legais que valem a visita noturna. Tiramos uma noite para conhecer alguns. Na rua Venezuela tem o Krakow, um bar com boas porções e variedade de cervejas, bom para ir de turma.
Na mesma noite, seguimos para outros na mesma região, onde tinha bebida e bilhar. Muitos são portinhas estreitas, identificados apenas por uma lousinha na porta, no melhor estilo “taberna”. Na Calle Piedras tem um outro pub bem legal, chamado The Clover Pub, onde a comida e a variedade de bebidas também são ótimas.